quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A história dos «entas» !


Quem é novo não pensa nisso, mas conforme a idade vai avançando começa o "bestunto" a ficar mais receptivo a essas coisas da idade e suas consequências. Diz-se que as coisas se começam a complicar quando a nossa idade passa a ter um "enta". O primeiro dia dessa etapa da nossa vida começa no dia em que fazemos «QUARENTA» anos. Entramos na primeira etapa dos entas.
Nesta idade, se não houver problema maior, o que às vezes acontece, as queixas costumam ter a ver com o esqueleto ou com os músculos. Uma dorsinha aqui, outra acolá, nada que um comprimido ou um massagista não resolva. Mas um dia virá em que se comemora o 50º aniversário e começa a segunda etapa dos entas.
A não ser que um homem seja muito azarado, os dez anos desta segunda etapa costumam decorrer sem grandes aflições. Por vezes ataca a diabetes, uma insuficiência renal ou cardíaca, mas ainda sem encostar o "cliente" à parede. Eu diria que são os últimos dez anos de sossego de um homem normal. E aí chega o 60º aniversário que é a verdadeira fronteira entre tudo aquilo que a nossa vida teve de bom e o que o futuro nos reserva de mau. Terceira etapa dos entas, enfrentem-na com coragem que eu já o fiz.
Os dez anos que medeiam entre o 60º e o 70º aniversário são uma verdadeira prova de fundo, em que só os melhores chegam ao fim. Muitos vão caindo pelo caminho tomados dos mais variados males. Esses vão para o cemitério e ganham uma enorme vantagem aos que ficam, não sofrem mais nem dão mais dinheiro a ganhar a médicos e farmacêuticos. Os que ultrapassaram com sucesso essa etapa, embora com queixas de maior ou menor grau, celebram o 70º aniversário e podem ter a certeza que daí em diante só terão arrelias. É a chamada «Idade do Condor», o pessoal desta idade vive com dor na coluna, nas articulações, nos rins e por aí fora.
Mas a dor não é o único e, se calhar, o pior mal. Começam aqui as falências do nosso organismo, a audição, a visão, a capacidade de locomoção, os dentes, os rins, o coração, os pulmões, não falta por onde escolher. E há ainda outra coisa que também vai à falência, nesta etapa da vida, e não incluí, de propósito na lista anterior, a potência. Isso mesmo, estou a falar naquela molinha que faz o pénis ficar em sentido. Esta falha do corpo masculino dá para um enorme capítulo separado.
Até aos 10 anos de idade, o homem pega no pénis com a mão direita, umas quantas vezes ao dia, só para aliviar a bexiga, mas não lhe passa mais cartão nenhum, anda para ali pendurado como se não existisse. Mas a partir dessa idade e quanto mais se aproxima dos 20, ele começa a levantar a cabeça e torna-se no brinquedo preferido de qualquer homem que se preze. Entre os 20 e os 40 anos de idade vive o homem despreocupado e sente que pode confiar no seu brinquedo e pô-lo a funcionar sempre que quiser.
Dos 40 aos 60 a coisa já fia mais fino e há que ter um certo cuidado nas cavalarias em que cada um se mete. Muita gente fica mal e tem que tirar os peões da arena por não ter medido bem a faena que começou. De vez em quando isso aguenta-se, desde que não aumente muito a frequência de tal acontecimento. Muitas vezes é nessa idade que aparecem as complicações na próstata. Reza o ditado que em cada três há um homem que sofre da próstata. Se for apenas hipertrofia a coisa resolve-se, mas se for cancro, o que está a tornar-se cada vez mais frequente, a vida vira um inferno e o brinquedo perde toda a importância.
A próstata é uma pequena bomba que funciona por impulsos nervosos. Entra em acção 6 a 8 vezes por dia para esvaziar a bexiga e, na etapa que estamos a atravessar, uma vez por semana para ejacular o esperma, se o homem continuar a manter-se sexualmente activo. Mas, infelizmente, esse período que já não é grande coisa, termina no dia do 70º aniversário. Quem fez 70 anos entra no túnel negro que leva ao cemitério ou ao sofrimento. Há uns quantos felizardos que conseguem chegar aos 80 e gabar-se de não ter queixas de saúde. Bem gostaria de me contar entre eles, mas há muito que perdi essa corrida.
As dores que, hoje, me afligem, começaram quando tinha 57 anos e pioram a cada um que passa, já lá vão quase 17 anos a sofrer. Esse é o primeiro mal que refiro, pois me mantém aqui sentadinho sem poder dar umas voltas por aí e apreciar a paisagem. Onde puder ir de carro, eu vou, onde o carro não chega, não vou. E, por causa da diabetes estou em risco de não conseguir renovar a carta, daqui a quatro meses. Depois a vista, a não ser as letras garrafais, um homem não consegue ler nada, passa o jornal de uma ponta á outra só para ver as fotografias. E os dentes? Desses nem se fala, começam a ir devagarinho e de repente, está a boca vazia. Se ouves mal, metem-te um grilinho no ouvido e lá te vais safando. Quando o coração começa a falhar, dá-se um golpe no peito, levanta-se a pele e mete-se lá dentro um pacemaker e siga o baile.
Nem vale a pena falar dos que têm os pulmões como cortiça, por causa do cigarro, dos que têm o fígado à beira da rotura por causa dos copos, ou andam a fazer hemodiálise, porque os rins já deram o berro. A esses, para infelicidade deles, a doença pode chegar muito mais cedo e não terem tido a sorte de poder desfrutar a vida até à idade que eu tenho hoje.
E aí vai um homem que passou dos 70, de bengala, com óculos, dentadura postiça, grilo no ouvido, pacemaker para não deixar adormecer o coração e a pensar no seu brinquedo que mal lhe serve para mijar.
Digam-me lá, vale a pena continuar a viagem?

9 comentários:

  1. Mesmo, já com falta de tudo isso,
    se o remédio para a cura inventas
    ainda. em algumas coisas acredito
    aqui e agora na idade dos "entas"!

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  2. Sendo assim,poderei ser classificado de SORTUDO.
    Só me atormenta o joelho esquerdo e pulso direito,mazelas herdadas da puta da guerra,quando a natureza nos oferece variações de temperatura. Embora eu seja "ainda" sexIgenário.
    Saúde e força no dito cujo para todos. A

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  3. Olha meu caro camarada, eu tenho 75 com cancro há 7 anos, não ejaculo porque o secaram para deixar de sustentar o bicho, mas tenho a vantagem de não sujar a mulher quando o grilo se levanta, para fazer uma colonoscopia com sedação tive que fazer um eletrocardiograma, a anestesista quando acordei disse-me que foi difícil acordar-me, que fazia bloqueios e que tinha que levar um pacemaker, marquei uma consulta no dia seguinte dom o diretor de cardiologia dos hospitais da Universidade de Coimbra, que me perguntou depois de ver um ecocardiograma feito na hora, que não chamou estúpida à médica que me tinha dado essa informação, mas levou as mesmas voltas, nem a medicação me foi alterada, os médicos são seres humanos, também erram, vamos esperar pelos robôs das novas tecnologias que nunca falham nos diagnósticos e entretanto vamos comendo, bebendo, e andando, BOA SAÚDE A TODOS e fiquem com o meu ABRAÇO.

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  4. Formidável, atento ao relatado, pareces um mensageiro da realidade da vida . Realmente, louvo a tua capacidade de análise e, porque não, a clarividência do que acontece ou pode acontecer, embora julgue que um pouco de optimismo não ficava nada mal ; assim como, ter em conta o número de excepções que, hoje em dia, são bastante consideradas e tendem aumentar, face ao crescimento de esperança de vida . Quanto a mim, por enquanto, não tenho grandes razões de queixa, podendo mesmo dizer que, alimentação mais ou menos regrada, ginásio e natação poderão dar uma ajuda ; sem esquecer, se possível, alguma coisa que constitua novidade . Para além disto, importa desejar as melhoras aos que têm problemas de saúde e apelar para que tenho esperança em melhores dias . Um abraço .

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  5. Há que aceitar a realidade e viver o tempo que nos resta da melhor maneira possível...

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  6. Não gostei de ler este post. Faz um retrato demasiado negro de uma época de vida que também tem os seus encantos para quem não é tão pessimista.
    O maisquetudo tem 74 anos, teve cancro na próstata há 7 anos. Fez radioterapia, e está bem. Ficou com disfunção eréctil, que o andrologista resolveu depois de lhe ter feito exames ao coração, rins e fígado, e ter verificado que não havia problemas com esses órgãos. Os dentes? Já há dentaduras fixas e definitivas, A minha sobrinha é bem mais nova e por causa da esclerose múltipla perdeu todos os dentes. Implantaram-lhe dentaduras dessas por cirurgia. Voltando ao marido, há três anos estava praticamente cego com as cataratas. Foi operado e ficou bom. O pior problema são as pernas, devido a uma coxa-artrose, caminha um bocado e tem que parar, mas bastam dois minutos de paragem para caminhar outro tanto.
    Por isso, acho que está a ser muito pessimista.
    Um abraço

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    1. A única coisa que me alegra é saber que há muita gente bem pior que eu!

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  7. Estou estupefacto com esta manifestação de alegria,perante o infortúnio alheio.
    Eu,antes pelo contrário,e não vivendo das misérias dos outros,fico triste com as misérias de todo o ser humano,sejam elas de saúde,financeiras e/ou espirituais

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  8. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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